Tragédia abala chilenos em Campinas
Grupo se reúne para fazer orações e buscar informações; falta de contato deixa parentes aflitos
Gilson Rei
DA AGÊNCIA ANHANGUERA
gilson@rac.com.br
Chilenos que moram em Campinas se reuniram ontem para fazer orações, buscar ajuda e notícias sobre parentes e amigos no Chile, arrasado pelo terremoto na madrugada de sábado. A tragédia marcou ontem o encontro semanal das famílias chilenas, que ocorre sempre de forma festiva aos domingos na Associação dos Chilenos Residentes em Campinas e Região Pablo Neruda, no distrito de Sousas, onde são promovidos almoços, jantares, ensaios teatrais e musicais, que celebram a cultura e os costumes do povo chileno.
Abalado pelo tremor que afetou o país de origem e pela situação complicada de pessoas queridas, o grupo se encontrou com angústia e preocupação. Das 30 famílias que se reuniram, duas ainda não tinham conseguido contato com os parentes no Chile. Os demais enfrentaram dificuldades para se comunicar e relataram o drama dos que estão no país, com o medo de novos tremores. Todos os chilenos contatados pelas famílias de Campinas tiveram perdas materiais e começam a se preparar para reconstruir a vida.
Entre os sem contato no Chile está o casal Luis Merino e Ilda Merino, que vive em Campinas e estava em Concepción quando o terremoto ocorreu. Os dois viajaram a passeio e deixaram as duas filhas e os dois filhos em Campinas. Eles não haviam feito contato até a tarde de ontem e a família estava aflita. Os filhos passaram a noite acordados e atentos aos noticiários.
A chilena Irene Martinez contou a angústia de também não ter conseguido contato com o irmão que vive em Concepción. “A cidade está incomunicável, ninguém consegue saber o que está acontecendo. A esperança é de que ele tenha escapado e nos dê uma boa notícia”, disse.
Os chilenos localizados contaram as dificuldades do recomeço e o medo de novos tremores. Veridiana Martinez, uma das diretoras da associação, afirmou que seis tios e cinco tias vivem em Santiago e o primeiro contato ocorreu na noite de sábado. “Todos estão vivos e bem. Perderam móveis, objetos, janelas e portas da casa”, disse. “Juntam-se para dormir na sala e, quando percebem um movimento mais intenso, correm para fora da casa.”
Alejandro Moraga, pai de Veridiana, afirmou que a situação é de tensão permanente. “Os chilenos estão acostumados com abalos, mas quando ocorre um terremoto nessa escala, todos ficam traumatizados por vários meses, pois novos tremores menores ocorrem durante um mês.”
Presos
O casal Patrício Villalobos e Berta Rosas disse que estava na semana passada no Chile, no deserto do Atacama, com o filho Alejandro e a nora Tania Eckardt. “Voltamos para Campinas e meu filho ficou na Ilha de Páscoa com minha nora, para comemorar o aniversário de casamento”, disse Berta. “Quando veio a notícia do terremoto, ficamos desesperados”, afirmou. “O primeiro contato foi obtido apenas na meia-noite de sábado. Eles estão bem, mas não têm previsão de quando vão voltar porque estão presos na ilha, pois o aeroporto ainda está fechado.”
Carla Fabíola Munhoz, filha de chilenos nascida na Argentina, sofreu em dobro, pois tem parentes no Chile e na Argentina, onde também foi registrado um tremor ontem. “Na Argentina, o terremoto de 6,1 graus não afetou a região de Buenos Aires, lugar em que estão meus parentes. A situação foi mais grave no Chile, onde meus parentes passam por muitas dificuldades”, disse.
“Há também a insegurança dos saques e furtos, e por causa da fuga de presidiários depois do terremoto”, afirmou.
A FRASE
“A primeira coisa que vem à mente é que o mundo está acabando.”
ALEJANDRO MORAGA
Chileno que vive em Campinas e enfrentou o terremoto de 9,5 graus no Chile em 1960
Três mil famílias vivem no município, diz associação
Dados da Associação dos Chilenos Residentes em Campinas e Região indicam que mais de 3 mil famílias de chilenos vivem em Campinas. As viagens ao Chile ocorrem, em média, a cada dois anos. A chilena Maria Elena Curivil Castillo, disse que acordou às 5h de sábado com um telefonema de uma amiga, informando sobre o terremoto e não conseguiu mais dormir. “Foi terrível. Comecei a ligar para minha irmã e para os seis irmãos que moram em Santiago, mas só soube que eles estavam bem na madrugada do domingo”. O casal Luis Alejandro Quezada Bernal e Marisol Osorio Lara passou a noite em claro. “Ficamos ligados o tempo todo na internet e na TV para obter notícias sobre o Chile. Conseguimos ter informações sobre nossos parentes e amigos no sábado à tarde. Todos estão bem, mas perderam tudo e estavam sem energia elétrica e água”. (GR/AAN)
Pode haver brasileiros entre os mortos, diz a embaixada
Até ontem, 300 pessoas procuraram o órgão, mas não havia registro de vítimas
O embaixador do Brasil no Chile, Mário Vilalva, afirmou ontem que ainda não descartou a possibilidade de haver brasileiros entre as vítimas e feridos do terremoto que atingiu o país anteontem.
“O número de vítimas está subindo. Obviamente, não se pode descartar que venha surgir uma vítima entre os 12 mil brasileiros que estão no Chile. Mas, até o momento, isso não aconteceu”, afirmou o embaixador na tarde de ontem. Segundo ele, a situação estava controlada.
Vilalva disse também que não irá pedir para a Força Aérea Brasileira (FAB) enviar mais um avião para buscar brasileiros no país. “Não há brasileiros em condições graves”, justificou.
Ontem, um avião da FAB pousou em Brasília como 12 brasileiros (três militares e nove civis), que estavam em Santiago. O avião foi para o Chile para levar autoridades do país e voltou com os brasileiros a pedido da embaixada. Vilalva contou que o trabalho da embaixada tem sido de pedir paciência aos brasileiros. Segundo o embaixador, os brasileiros não devem sair das casas e hotéis onde estão.
“O melhor é esperar um ou dois dias e ver se o aeroporto volta a funcionar”, disse o embaixador. A embaixada recomenda que os turistas procurem as companhias aéreas. Vilalva afirmou que não é uma boa opção voltar por terra pela estrada que liga o Chile à Argentina.
O mais antigo dos dois prédios da embaixada em Santiago sofreu alguns danos no terremoto. Mas os funcionários atendiam ontem normalmente os brasileiros à procura de informações, segundo Vilalva. Mais de 300 pessoas procuraram a embaixada.
Isolado em Santiago, um grupo enviado pelos ministérios da Educação e da Cultura criticou o atendimento da embaixada. Ao procurar ajuda, não conseguiram contato com funcionários.
A comitiva, da qual faz parte Ana Maria Machado, secretária-geral da Academia Brasileira de Letras, foi ao país para participar de congresso.
“As pessoas ficam um pouco nervosas, já que passaram pelo trauma de um dos maiores terremotos da história. Existe certa impaciência”, disse o embaixador.
De acordo com os pilotos da FAB, a pista e o controle de tráfego aéreo em Santiago estão operando normalmente. O terremoto, porém, abalou a infraestrutura do aeroporto. Segundo a FAB, o governo chileno pediu para que dois representantes fossem levados de volta para o país. Entre eles estava o subsecretário de Justiça do Chile, Jorge Toledo. (Da Folhapress)